Letra de forma ou cursiva na alfabetização? 8 esclarecimentos para entender de vez esta polêmica!

Tempo de leitura: 5 minutos

A polêmica da letra: qual letra ensinar, quando, por quê? Algumas escolas possuem a perspectiva de ensinar a letra cursiva () desde a Educação Infantil. Outras, optam pela letra minúscula de imprensa (abc). Outras instituições, ainda, escolhem a letra maiúscula de forma (ABC). 

Seja qual for a letra escolhida, sempre “dá treta”. Os pais/responsáveis, muitas vezes questionam por que ensinamos ou não ensinamos. Aqui cabe uma ressalva: nós somos os professores! Nós somos as pedagogas! É legítimo que as famílias questionem, já que, provavelmente, quando eles foram ensinados, eram obrigados a escrever com a cursiva. Contudo, quem deve ter a resposta somos nós! Nós devemos saber porque ensinamos ou não ensinamos, baseadas em evidências científicas e em estudos já realizados. É ESSENCIAL que você tenha convicção das suas escolhas pedagógicas e possa suportá-las quando for questionada, seja por familiares dos alunos ou pela própria coordenação da escola. Uma professora protagonista não baseia o seu fazer docente em achismos, mas estuda e faz boas escolhas, sempre visando a aprendizagem do aluno e a intencionalidade por trás das suas metas e seus objetivos. 

Pontos importantes a respeito do ensino da letra cursiva: 

1 – A ciência comprova que a letra de mão é importante: ainda temos pouquíssimas pesquisas que investigam a respeito dos tipos de letra. Contudo, segundo pesquisas vinculadas com a autora Virgínia Berninger (EUA), a letra escrita à mão é importante para desenvolver algumas funções cognitivas. Veja bem, a letra escrita à mão, mas não necessariamente a cursiva. Pode ser a de imprensa minúscula ou a maiúscula.  

2 – Para ensinar, é preciso saber como se aprende: já é consenso entre muitos autores (embora, às vezes, ignorado), que a letra bastão (forma maiúscula) deve ser priorizada em fase de alfabetização. Os/as alunos/as, neste período, já estão dando conta de várias demandas, estabelecendo relações entre grafema e fonema… Já pensou ainda ter que dar conta de um traçado complexo como o da letra cursiva, onde exige-se uma habilidade extrema de motricidade fina e percepção visual? A prioridade, durante a alfabetização, deve ser consolidar as propriedades do Sistema de Escrita Alfabética; por isso, a opção de ensinar a letra bastão em um primeiro momento é a mais acertada, facilitando a escrita e a leitura (por questões de motricidade e percepção visual, já que são letras simples e separadas umas das outras). 

3 – Respeite a hierarquia: na matemática é muito simples e quase que automático respeitar a hierarquia do ensino. Ninguém ensina frações, de maneira sistemática, na Educação Infantil. Mas por que esta hierarquia é abandonada quando se trata do ensino da leitura e da escrita? Juntar as letras (escrever/ler emendado) é muito mais abstrato do que com a letra bastão. Sendo assim, é preciso respeitar este desenvolvimento. As professoras do curso PLEEI (Práticas de Leitura e Escrita na Educação Infantil) sabem bem disso (LINK). 

4 – Para ensinar uma, domine a outra: qual é o momento certo para ensinar a letra cursiva? Depois que as crianças JÁ dominam a letra bastão e script, bem como suas correspondências; ou seja, quando estão alfabéticas (provavelmente, fim de 1º ano, início do 2º). Podemos possibilitar o contato antes deste período, mas atividades estruturadas com este objetivo devem respeitar este aspecto. 

5 – Não deixe o seu aluno analfabeto de algum alfabeto: devemos ensinar a cursiva, com absoluta certeza. Não é porque defendemos que este ensino deve ser mais tardio, que achamos que ela deve ser abandonada. Faz parte da nossa responsabilidade pedagógica ensinar que vários traçados são possíveis, pois vemos em livros, filmes, propagandas, marcas…  

6 – Não faça mais sofrido do que já é: muitas crianças são resistentes na hora de aprender a cursiva. Você já parou para pensar por que isso acontece? Provavelmente, porque utilizamos estratégias de repetição do movimento e atividades de caligrafia. Lembre-se: são crianças! Use o lúdico! Atividades com  caixas de areia, tinta, massinha, lã, com o próprio corpo, no pátio Que vão para além da folha. Oportunize o contato de atividades em letra cursiva também, como xerox da própria letra da professora em uma folha de caderno. 

7 – Obrigar as crianças a escrever na cursiva: não! Não faz sentido! Claro que, enquanto estamos ensinando, podemos fazer desafios, o “dia da cursiva”, o “dia do caderno”, “o dia da bastão” (porque quando ficamos investindo em apenas um traçado, corremos o risco de esquecer o outro)… O importante é que seu aluno saiba ler e escrever com todos os traçados, mas ele pode escolher a letra que ele mais se sinta à vontade. Polêmico, né?! O TCC da professora Clarissa pesquisou exatamente isso: o que os alunos pensam a respeito dos traçados, por que escolhem um em detrimento de outro. Acesse aqui 

8 – Ensino da letra cursiva por “bases”: as letras cursivas possuem “famílias” ou “bases”, que são letras que fazem o mesmo movimento (Rede Simplifica). Que fique CLARO: estas “famílias” não são uma ordem para alfabetizar. Vamos ensinar estes traçados quando a turma já estiver alfabetizada. As “famílias” das cursivas são apenas letras que possuem um mesmo movimento! 

  • Base C: c, a, d, g, q, o; 

  • Base L: l, e, f, b, h, k;

  • Base I: i, u, t, y, j, p, r; 

  • Base “das voltas” (três grupos): 
  • m, n 
  • x 
  • s, z, w, v 

 

Se você se interessou por este assunto, pode assistir à aula gratuita e completa aqui e ler o TCC da Professora Clarissa aqui.

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Abraço,
Professora Clarissa Pereira e Camila Oliveira      

(Texto redigido por Camila Oliveira e revisado por Clarissa Pereira) .

12 Comentários


  1. Quero aprender c vc , professora! Parece aulas muito lucrativas , e muito desenvolvimento no aprendizado . Já sou sua fã!!!!

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  2. Boa noite obrigada pelos conhecimentos oferecidos, todas as orientações contribuirá muito no meu trabalho.

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  3. Sou professora aposentada, mas nunca me desliguei das idéias que cultivei todo o tempo. De naquele tempo eu tivesse alguém como você, para tirar minhas dúvidas, minha tarefa teria sido mais fácil.
    Obrigada.

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  4. Estou tentando fazer o curso CAP a algum tempo, mas esse ano espero conseguir! Tenha acompanhado as lives, são ótimas. Obrigada por partilhar seu conhecimento e de tantas outras pessoas. Deus os abençoe!!

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    1. Olá, Silvana?

      Será um prazer recebê-la no CAP!❤️️
      Temos previsão de aberturas de vagas dia 28 de janeiro.
      Te esperamos!❤️️
      Daiane #EquipeClarissaPereira

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  5. Meu filho foi para o 3° ano e na escola ainda não aprendeu a letra cursiva, mas eu como mãe tbm sou responsável pela educação dele e estou ensinando ele desde o início do 2°ano, então resolvi ajudar a ensinar que não existe apenas a letra bastão para a escrita…. Atualmente com a pandemia nas lições remotas ele decide qual letra ele usa para fazer as atividades…. E hoje lendo seu artigo vi como ajuda ainda mais ele com as bases q ele ainda tem um pouco de dificuldade de fazer…(meu filho tem 7 anos e possui déficit de atenção e dislexia)

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  6. Não são as pedagogias ou professoras que sabem tudo. Isto chama-se arrogância. Nós estudamos, seguimos teorias. Inclusive, muitas vezes, escolhemos aquela que vamos seguir ou abandonar. As teorias seguidas é que determinam o fazer docente. Somos, quando não atuamos em pesquisa científica, meros repetidores daquilo que nos mandam fazer ou nos convêm. Estejamos abertos e sejamos humildes, porém, excepcionais no que fazemos!

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